Querida mãe
O tempo passa e (in)felizmente nalgumas coisas passa bem depressa.
Ainda à pouco andava eu na primaria, a correr de um lado para outro, rebelde, sempre a jogar futebol, sempre no meio dos rapazes, com tantas queixas da escola e de quem tomava conta de mim. Lembraste? :)
Lembraste-te quando chegava a casa e me abraçava a ti e te beijava o rosto? quando sentia o teu carinho por mim agradecendo-te com um sorriso estampado na cara?
Aqueles nossos passeios bonitos à beira mar, à beira rio, à espera de ver o pôr do sol que tanto gostava...
E naqueles tempos em que era mais crescida e te pedia conselhos? quando chorava de amores e tu me dizias que isso me passava, pois era da idade. Abraçavas-me para me consolares, sentia-me protegida contigo.
Lembraste da nossa cumplicidade? de nos protegermos uma à outra? de vivermos apenas uma para a outra? era tão bom, parecia que tudo era tão perfeito...
Lembraste quando te via partir por uns tempos e chorava a pedir-te que voltasses depressa?
Desenhava-te numa folha para te recordar sempre, depois lá vinhas tu e me abraçavas e me asseguravas que não tornarias a partir.
O amor que tínhamos uma pela outra era tão forte, que sempre desejava que os dias nunca chegassem ao fim. Juravas-me sempre que ias ser o meu guarda protector. Acordava a sorrir por sentir sempre o teu beijo de bom dia, por me levantar e ver o meu pequeno almoço preparado com muito amor, o lanche da escola pronto em cima da mesa.
Lembras quando sentias que o dia da mãe era tão importante para mim e corria para ti a dar-te a prenda do dia da mãe feito com tanta dedicação?? adorava esse dia e tu sentias, sabias e tinhas a certeza disso :))
Lembraste desta nossa cumplicidade, desta nossa protecção uma por outra, deste enorme amor que tínhamos uma pela outra? Lembraste-me mãe? lembras?
Claro que não lembras, porque nunca passaste comigo nenhum desses momentos, porque nunca soubeste ser mãe, porque nunca fizeste um esforço para estares presente...
Estas lembranças são apenas de uma vida imaginaria...
Apenas me viste a chorar uma vez, foi quando nasci do teu ventre e se me viste uns tempos a seguir não soubeste lutar, nem tentaste lutar por mim.
Mas sabes mãe, aquele meu choro quando nasci, foi uma choro de agradecimento por me meteres ao mundo.
Não soubeste ser mãe, e oxalá consigas ser uma boa avó, se um dos meus irmãos te der essa oportunidade!
Beijo...