Costumamos dizer que eles vivem num mundo à parte, num mundo deles, mas não, vivem exactamente no mesmo mundo que o nosso.
Eles não nos vêem, mas vêem-se um ao outro. Apenas nos ouvem, sentem que estamos lá.
A nós, procuram o sitio onde nos devem tocar (não haja descuidos), entre eles os dois sabem exactamente a distancia, e o sitio onde podem tocar, sentir… Olho para ela e vejo aqueles olhos brancos(que me metem impressão), mas imediatamente concentro-me no tom de voz, e naquele sorriso grande, nas conversas animadoras, na vontade que ela tem de rir e consigo esquecer que ela é um bocadinho diferente de mim…
Assim, estão tão limitados, um pouco prisioneiros da vida, mas ao mesmo tempo com uma grande liberdade interior…
São um casal, diferentes, mas com uma vida igualzinha à nossa…
Olho para eles, e penso como são capazes de fazer com que não haja diferença entre nós e eles, como conseguem levar a vida sempre a sorrir, como conseguem ter uma força de vontade tão grande!!??
Fecho os olhos, tento ver como seria a minha vida sem eu ter visão… e não, não consigo imaginar!
E é por isso que lhes dou grande valor, por conseguirem aquilo que nós (supostamente pessoas normais) não conseguimos, nem sequer imaginar…
7 comentários:
Tens toda a razão, Soraia.
Quantos de nós conseguimos ver como somos uns sortudos? Ver, ouvir, falar, ter duas pernas e dois braços, são coisas tão banais, que nem pensamos nelas como uma benção. Mesmo assim, às vezes achamo-nos miseráveis... Egoísmo nosso. Porque se olharmos ao redor, com atenção, encontramos tantas, tantas coisas pelas quais temos de dar graças.
Não acho que possamos imaginar o que é a vida sem, por exemplo, ver. Podemos tentar. Podemos fechar os olhos por uns momentos, até umas horas, e tentar. Mas é temporário, sabemos que basta abri-los para ver. Sim, essas pessoas são fantásticas. Acredito que passem por uma fase inicial de revolta. Porquê? Porquê eu? Mas, em vez de se entregarem a uma vida a tentarem culpar alguém, alguma coisa, tentam ter uma vida feliz. Ao falar dos invisuais, falo de todos os outros com alguma incapacidade física.
Conheço um casal de invisuais que admiro tanto, tanto! Têm uma filhota de três anos, que não é invisual. Eles conseguem fazer tudo. Trataram da filha bebé, tudo. E têm uma alegria de viver que é contagiante. Uma lição de vida!
Pergunto-me se eu seria capaz... sinceramente, não sei.
Beijinhos, Soraia
Nirvana:
todos eles ja passaram por essas questoes. porquê só a eles é que aconteceu, porque nao a outra pessoa qualquer menos a nós... mas eles souberam adaptar-se, souberam seguir a sua vida e vive-la da melhor forma possivel...
mas nós, sim, somos uns grandes egoistas, nunca estamos bem com nada e queremos sempre mais e mais...
beijinho, Nirvana
Eu digo que tudo o que temos é importante, mas julgo que a visão é o bem mais preciso que temos. Eu uso óculos e faz-me bastante impressão quando tenho de os tirar por algum motivo. Não me imaginaria viver sem conseguir ver!
Beijinhos :)
Soraia,
Obrigado pela tua reflexão sobre este assunto. É mais fácil levarmos a vida a olhar para o outro lado quando vemos alguém com alguma dificuldade.
Há muito que me habituei a tratar as pessoas com deficiência sem pena. Eu explico. O convívio com alguém com deficiência vai convencer quem o tente de que deficientes seremos todos numa ou noutra capacidade. Quantas vezes eles não acabam por nos dar lições em força de vontade e em formas mais honestas de encarar o mundo que os rodeia, quando nós andamos às voltas com hipocrisias e tolices.
Claro que há casos e casos, conheço casos de cegos que tiraram cursos superiores e casos de quem viva em total dependência. Quando as situações de cegueira são congénitas e bem acompanhadas consegue-se uma enorme adaptação, e claro que para eles aquele é o mundo que eles sempre conheceram e não compreendem quando comentamos surpresa pelo que eles conseguem fazer sem esse sentido que nos é fundamental.
Mas vou contar-te um caso:
Numa cidade do país tive de parar o carro num "stop" que estava colocado numa rua muito estreita de sentido único. Para ter alguma visibilidade para a avenida para onde ia virar, tive de chegar o carro bem para a frente. Vinha um cego (homem dos seus 50 anos, bem vestido...) e, ao aproximar-se do meu carro, pensou que estava mal estacionado e começou às leves bengaladas à frente toda do carro. Como o tinha visto chegar até ali (vinha com o "à vontade" de quem já fez o trajecto desde sempre) e reparei que se estava a divertir com os sons, abri o vidro e disse: "Bolas homem, também não precisa de me partir o carro à bengalada". Por esta altura já ele ia a chegar ao outro passeio, virou-se para trás e sorriu-me com um aceno de mão... Sei que não é uma atitude comum, mas como disse trato-os com muita naturalidade, desde que vi um a zangar-se com alguém que o tentava ajudar a subir para um autocarro - compreendi então que alguns também têm o seu orgulho.
E sabes Soraia, até hoje ainda recordo o sorriso daquele cego, que li como o reconhecimento pelo facto de não o ter tratado com um aleijadinho.
A isto chamo integração. Claro que os ajudo quando eles precisam, mas também sinto que me deixo ajudar muitas vezes, há é menos voluntários para o meu caso.
Beijinho!
D* :
tambem penso exactamente assim
sem visao estamos impedidos de muita coisa (embora haja quem se tenha habituado a sem ela)
beijinho
CybeRider:
Sabes, eu nao gosto de ter pena "dos coitadinhos".
às vezes o que sinto é impressao, afinal estao limitados por qualquer coisa, mas quando reparo que mesmo limitados conseguem fazer exactamente o que eu faço, a impressao acaba logo, e pensop logo (com satisfaçao) que afinal nao sao tao diferentes de nós.
costuma-se dizer que "Deus deu nozes a quem tem dentes", mas a estes que nao têm visao( falo de visao, como falo de outra limitaçao), provavelmente serão recompensados de outra maneira pela vida.
beijinho Cybe :)
Olá Soraia.
Este é de facto um assunto que me sensibiliza, talvez pelo facto de eu estar "do lado de fora"... Contudo, tento manter a mesma atitude que o Cybe refere.
Quando dos cinco nos falta algum sentido, os outros tendem naturalmente a apurar-se.
Limitações todos temos, só que umas são menos "visiveis"...
Beijinho, Soraia.
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